sábado, 11 de setembro de 2010

video de posse de jose sarney no governo do estado do maranhao

José Sarney sob a ótica de Glauber Rocha
Em 1966, 2 anos depois do Golpe Militar que transformou o país em uma ditadura, o então com 35 anos de idade, governador eleito do Maranhão, José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, pediu a um amigo e jovem cineasta que documentasse o que seria conhecido como o início de um domínio político familiarque só terminaria em 1º de janeiro de 2007.
O jovem José Ribamar cresceu politicamente, mudou de nome, e tomou posse como presidente do Brasil  após a morte do então candidato eleito, Tancredo Neves – 1º presidente civil eleito depois de 29 anos de ditadura militar e o útlimo de forma indireta no país  – e é atualmente senador pelo Estado do Amapá.


O amigo cineasta acabou morrendo em 1981, e é consagrado internacionalmente por ser um dos criadores e precursores do movimento que seria conhecido como Cinema Novo, usando e abusando do seu lema principal: “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”.
Como era de se esperar, Glauber Rocha deixou seu “amigo” José Sarney, em maus lençóis quando acabou lançando o filme, em uma pequena sala de cinema para poucos convidados, mostrou o filme que serviria de inspiração para a sua maior obra prima, Terra em Transe[bb], utilizando inclusive planos filmados para Maranhão 66 – nome dado ao documentário – para a cena do comício do personagem vivido pelo grande José Lewgoy, Felipe Vieira.
Intercalado entre as imagens e o discurso de posse do então governador José Sarney, o polêmico diretor colocou imagens da miséria em que se encontrava o povo maranhense naquela época. Não que tenha mudado muito, imagino eu.
Infelizmente, não tive a oportunidade, ainda, de conhecer o Maranhão, mas imagino que a situação não deva ser muito diferente do restante do país.
Abaixo você pode assistir o filme Maranhão 66 que Glauber Rocha produziu para José Sarney.


Anos mais tarde, na edição do dia 25 de agosto de 1981 para ser mais exato, já como senador eleito, José Sarney teria dito o seguinte sobre o filme, em um entrevista ao Jornal do Brasil :
“Tomava eu posse no governo do Maranhão e fiz uma ousadia que não deveria ter feito com um amigo da estatura de Glauber Rocha. Eu lhe pedira que documentasse a minha posse. Glauber fez o documentário que foi passado numa sala de cinema de arte, há 15 anos. E quando o público viu que uma sessão de cinema de arte ia ser passado um documentário que podia ter o sentido de uma promoção publicitária, reagiu como tinha que reagir. Mas aí, o documentário começou a ser passado, e quando terminaram os 12 minutos o público levantou-se e aplaudiu de pé, não o tema do documentário mas a maneira pela qual um grande artista pôde transformar um simples documentário numa obra de arte: ele não filmou a minha posse, ele filmou a miséria do Maranhão, a pobreza, filmou as esperanças que nasciam do Maranhão, dos casebres, dos hospitais, dos tipos de ruas, e no meio de tudo aquilo ele colocou a minha voz, mas não a voz do governador. Ele modificou a ciclagem para que a minha voz parecesse, dentro daquele documentário, como se fosse a voz de um fantasma diante daquelas coisas quase irreais, que era a miséria do Estado”
Mais uma prova da maestria do político que consegue transformar uma crítica ferrenha em uma propaganda política como nenhuma outra.

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